Seis minutos para aprender sobre o vinho: Vinhos biodinâmicos e orgânicos
A busca por produtos mais saudáveis e sustentáveis cresce em todo o mundo — e o universo do vinho reflete essa tendência.
A forma como as uvas são cultivadas influencia diretamente a qualidade, o equilíbrio e a expressão do terroir no vinho. Por isso, expressões como viticultura orgânica, biodinâmica e sustentável se tornaram fundamentais no vocabulário de quem ama e trabalha com vinho.
Mas afinal, qual é a diferença entre elas? E como esses métodos impactam o vinho que chega à sua taça?
O que é viticultura sustentável, orgânica e biodinâmica
Na viticultura sustentável, a mais comum atualmente, o objetivo é equilibrar o respeito à natureza com a necessidade de proteger as videiras.
Ainda se utilizam fungicidas, herbicidas e inseticidas de forma controlada, buscando reduzir o impacto ambiental.
A viticultura orgânica vai além: proíbe totalmente produtos químicos e sintéticos, priorizando o uso de elementos naturais.
Já a viticultura biodinâmica é uma abordagem mais ampla — ela trata o vinhedo como um organismo vivo, em harmonia com o solo, o clima e os ciclos lunares.
Como trabalham os viticultores orgânicos
Os viticultores orgânicos utilizam recursos naturais como cobre e enxofre para proteger as videiras de pragas e doenças.
As ervas daninhas são controladas com cobertura vegetal ou cultivo mecânico, e os fertilizantes sintéticos e pesticidas são totalmente proibidos.
Selos e certificações na França
Na França, a certificação de agricultura biológica (agriculture biologique) é concedida por órgãos oficiais do governo.
Para obtê-la, o produtor deve passar por um período mínimo de conversão de três anos, no qual o solo precisa ficar livre de produtos não permitidos.
Durante esse tempo, há fiscalizações constantes — análises de solo, controle de estoques e verificação de notas fiscais.
Uma simples compra de herbicida ou inseticida pode levar à perda do selo.
Como trabalham os viticultores biodinâmicos
A viticultura biodinâmica é inspirada nas ideias do filósofo austríaco Rudolf Steiner, que defendia uma agricultura autossuficiente e em equilíbrio com o meio ambiente.
É uma prática comparável à homeopatia: em vez de eliminar os problemas, ela busca estimular os mecanismos naturais de defesa e de crescimento da videira.
Entre as práticas mais conhecidas estão:
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Preparações biodinâmicas, como chifres de vaca cheios de esterco ou quartzo, enterrados no solo e depois diluídos em água para pulverização;
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Compostos naturais que favorecem o desenvolvimento de micro-organismos e minhocas no solo;
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Infusões de plantas, como a cavalinha, usada para prevenir a proliferação de fungos. E muitas outras como a camomila, que ajuda a revitalizar o solo e a valeriana, que ajuda o solo e as videiras a suportarem melhor as condições frias e úmidas, mantendo sua energia vital ativa.
💡 Experiência pessoal:
No Domaine des Croix, participei da preparação de uma infusão de cavalinha: deixamos a planta em água por um dia, centrifugamos, filtramos e pulverizamos as vinhas do Beaune 1er Cru Les Tuvilains . Essa prática ajuda a proteger o solo contra o desenvolvimento de fungos — um exemplo simples e eficaz de como a biodinâmica atua na prevenção natural de doenças.
O calendário lunar na biodinâmica
Um dos pilares da biodinâmica é o uso de um calendário lunar e sideral, que classifica os dias em quatro categorias: raiz, folha, flor e fruto.
Esse calendário orienta todas as etapas do trabalho na vinha — desde a poda e o engarrafamento até o momento ideal para provar um vinho.
💫 Dica prática: o aplicativo When Wine mostra se o dia é favorável ou não para degustar vinhos, com um simples “yes” ou “no”.
Pioneiros na Borgonha
A Borgonha abriga alguns dos maiores nomes da viticultura biodinâmica e orgânica da França.
🍇 Anne-Claude Leflaive, do Domaine Leflaive, foi uma das pioneiras a converter suas vinhas — incluindo o prestigioso Grand Cru Bâtard-Montrachet — para a biodinâmica nos anos 1990.
Na época, sua decisão foi vista como ousada, mas o resultado é incontestável: solos comais saúde micro orgânica, vinhas mais resistentes à pragas e doenças e vinhos de qualidade excepcional.
🍇 Outro exemplo é o Domaine de Montille, que iniciou sua conversão à viticultura orgânica em 1995 e à biodinâmica em 2005.
Hoje, é referência em elegância e pureza na Borgonha, com vinhos que refletem a força e a vitalidade do solo.
Muitos outros produtores da região também adotam práticas mistas, aplicando princípios orgânicos e biodinâmicos sempre que o clima permite.
Um caminho longo e recompensador
O cultivo da videira sem tratamentos químicos é mais difícil e, muitas vezes, mais caro que a viticultura convencional. No entanto, ele atende ao desejo de produzir uvas de forma sustentável e natural, em sintonia com as preocupações sanitárias e ambientais.
As viticulturas biodinâmica e biológica rejeitam os tratamentos químicos em favor de fertilizantes naturais e de soluções manuais ou mecânicas para combater pragas, doenças e ervas daninhas.
